Kiss

Uma década da tragédia sem precedentes

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Sobreviventes, pais, familiares e amigos realizam intervenção com colagem de fotos e frases

Há 10 anos, em um domingo, o desespero foi a reação a uma ligação. O pai de Matheus Brondani foi informado que o jovem de 23 anos poderia estar entre as vítimas do incêndio da boate Kiss, em Santa Maria - o que Mario Nei Brondani confirmou com os próprios olhos. Isso após ir até a cidade e ingressar em um ginásio onde estavam os corpos das vítimas; entre eles, o do filho.

No dia 27 de janeiro de 2013, a jornalista Fernanda Couto Rostan estava de plantão, no jornal Minuano, em Bagé. "Minha missão era fazer a cobertura da tragédia, mesmo que à distância", lembrou. "Foi a pior missão da vida", definiu. Acontece que Fernanda encontrou o nome de uma amiga de infância entre as vítimas. Ela também acabou testemunhando o exato momento em que um familiar recebeu a confirmação de que seu ente querido estava entre os mortos.

Em comum, os relatos dos dois - na data que marca uma década da tragédia - destacam a dor diante do que definem como impunidade. Aos 23 anos, Matheus cursava Agronomia na Urcamp, estava no último ano do curso. O pai relatou que falou com o filho no sábado - um dia antes da tragédia. O jovem foi até Santa Maria para ver a namorada e participar de um rodeio. Os dois estavam na boate e ela também morreu.

Brondani explicou que não sabia que Matheus iria para a Kiss. "Conversamos naquela tarde pela última vez. Eu não sabia que ele tinha ido para a boate. No domingo pela manhã, recebi a ligação da tia da namorada do meu filho, fiquei desesperado e fui pra Santa Maria. Quando cheguei lá, os corpos estavam em um ginásio. Eu entrei e encontrei o corpo do meu filho", recordou.

Questionado sobre o julgamento daqueles que são apontados como responsáveis pela morte das 242 pessoas, Brondani disse que, para ele, quem deveria estar no banco dos réus são os representantes (na época) do município e do Estado. "Sinceramente, não espero nada da justiça", afirmou.

"Uma maneira de tocar a vida"

Brondani afirmou que, nesses 10 anos, encontrou uma maneira de tocar sua vida. Foi um propósito que ajudou o pai de Matheus a sobreviver: a criação de uma escola de laço. Ele relatou que a escola já era um objetivo antes de tudo. "Seria para o Matheus explorar, porque ele sempre gostou do laço", disse. "Depois da morte dele, a escola passou a atender crianças, jovens e adultos em um trabalho social", acrescentou.

"Pior missão da vida"

A amiga de infância de Fernanda era funcionária da Kiss. Ela recordou do dia: estava de plantão e precisou fazer a cobertura da tragédia. "Hoje (ontem), casualmente, eu completo 15 anos como profissional de Jornalismo e, até hoje, mesmo à distância, foi a pior missão da vida", garantiu. "Tenho muito claro na memória o momento que eu vi o nome da minha amiga na lista das vítimas fatais identificadas, assim como, durante uma entrevista (por telefone), uma familiar de vítima ouvir o nome da pessoa de quem ela buscava informação, que havia sido identificada como vítima fatal", recordou.

"A justiça não foi feita"

Fernanda destacou que, certamente, depois da dor da perda, a pior é aquela diante da impunidade. "Se passaram 10 anos e a justiça não foi feita", ponderou. "Uma década é um tempo absurdo. Tanta coisa mudou no mundo de 2013 para cá. Só não mudou a situação de quem espera por justiça, sejam as famílias das vítimas ou os sobreviventes", ressalvou.

Ela mencionou que não consegue assistir ou ler nada sobre a tragédia (a fala faz referência aos recentes lançamentos de materiais audiovisuais e a publicação de reportagens especiais, entre outros). "Vi um trailer de 30 segundos e me deu uma tristeza de chorar de soluçar", comentou.

Sobre o que ela pensa a respeito da produção desses materiais, Fernanda garantiu acreditar que é uma forma do que aconteceu não ser esquecido. "O que eu vi até agora foram materiais autorizados e construídos a partir das narrativas das famílias das vítimas. Acho que elas são esse termômetro", pontuou. "Eu julgo importante essa memória", enfatizou.


CRÉDITOS Nathália Schneider/Diário de Santa Maria

O dia que se repete há 10 anos

O incêndio na boate Kiss foi um tragédia sem precedentes: 242 pessoas morreram e mais de 600 ficaram feridas. Até hoje, ninguém foi responsabilizado. O drama, como destacou material especial da Agência Brasil, começou por volta de três horas do dia 27 de janeiro de 2013, quando o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos, acendeu um objeto pirotécnico dentro da boate. A espuma do teto foi atingida por fagulhas e começou a queimar.

A fumaça era tóxica e fazia com que as pessoas desmaiassem em segundos. O local estava superlotado, não tinha equipamentos para combater o fogo, nem saídas de emergência suficientes. Morreram pessoas que não conseguiram sair e outras que tinham saído, mas voltaram para ajudar.

A informação da delegacia regional de Santa Maria é o pânico se instalou quando a fumaça se espalhou e a luz caiu. Isso porque as pessoas não sabiam como fugir. "E isso fez com que algumas pessoas enganadas por duas placas luminosas, que estavam sobre os banheiros da boate, corressem na direção dos banheiros e não na direção da porta. Então, houve um fluxo e um contrafluxo. Algumas corriam para o banheiro e outras tentavam correr na direção da porta de entrada. Isso fez com que muitas pessoas morressem porque algumas acabaram sendo derrubadas, algumas caíram", relatou o delegado Sandro Luiz Mainers.

Além da falta de sinalização, quem tentava sair esbarrava nos guarda corpos que serviam para direcionar as pessoas ao caixa da boate, disse o delegado. "E os guarda corpos foram determinantes, até porque nós encontramos corpos caídos sobre esses guarda corpos", afirmou o delegado, ainda de acordo com o material especial publicado pela Agência Brasil.

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